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18/06/2013 - 07:25
“O São João não melhorou nem piorou, transformou-se”
Essa é a ponderação do historiador e professor Amâncio Cardoso
Amâncio Cardoso, historiador e professor de Turismo: "O arraial foi para o palco" (Foto: Portal Infonet)

Os festejos juninos saíram da roça e passaram a fazer parte da cultura urbana nordestina. Ao longo das décadas, o folguedo popular se oficializou e foi inserido no calendário de eventos. Mas, afinal, tanta mudança descaracterizou a festa? Para muitos puristas o São João “morreu”. Outros comemoram o novo formato da festa, que passou a agregar diversos estilos. Para o historiador e professor de Turismo Amâncio Cardoso, a transformação é inevitável. Em entrevista ao São João Infonet o pesquisador faz algumas considerações sobre a evolução da festa. Confira:

São João Infonet - Os festejos juninos fazem parte do legado cultural nordestino. Como a festa deixou de ser uma comemoração familiar para se tornar um evento de massa?

Amâncio Cardoso - Antigamente, os festejos juninos eram festas de rua, organizadas pela vizinhança, como homenagem a um dos santos venerados no período. Com o crescimento da população e com a modernização dos aparatos tecnológicos, a exemplo de equipamentos de sons mais potentes, essas reuniões foram aumentando. Outro fator que influenciou diretamente nessa reconfiguração foi a entrada do poder público. Com isso, houve uma oficialização da festa, que deixou de ser um congraçamento de vizinhos para se tornar um empreendimento. O arraial foi para o palco. A festa religiosa ganhou um aspecto profano. Hoje, podemos falar que o São João deixou de ser doméstico para se tornar um evento público e empresarial.

São João Infonet - É comum ouvirmos comentários de que essas mudanças descaracterizaram o São João. Algumas pessoas mais radicais chegam a declaram que a tradição morreu. Como avalia essa questão?

Amâncio - Nesse contexto, não podemos falar em evolução ou retrocesso, pois as manifestações culturais não melhoram ou pioram, elas se transformam. A transformação é inevitável.  A cultura é dinâmica, é impossível engessar um movimento humano. Nós vivemos em sociedade, com vários grupos que apresentam gostos e temporalidades distintas. A briga se dá por causa de gostos estéticos. As pessoas querem que suas escolhas pessoais prevaleçam. Se a pessoa nasceu na época de Luiz Gonzaga e se afeiçoou àquele movimento que era moderno à época, vai ter dificuldade em aceitar as novidades que se seguem. Todavia, nós vivemos em um mundo plural. A tolerância e respeito às escolhas estéticas devem ser a diretriz. Hoje, vivemos numa dialética: o tradicional tem elementos do moderno, e o moderno tem elementos do tradicional, senão não sobrevive.

São João Infonet - Poderia citar um exemplo de como essas transformações aconteceram na prática?

Amâncio - Quando Luiz Gonzaga entrou no cenário cultural junino ele era tocador de valsa, de polca e de bolero. Quando ele se voltou ao contexto do Nordeste, transformou a música popular do sertão nordestino. Luiz Gonzaga não fez a música que o pai dele fazia. Ele inseriu bateria, guitarra, triangulo. Construiu um personagem com chapéu de cangaceiro e roupa de vaqueiro. Isso, a princípio, não foi bem recebido. Como outro exemplo cito a quadrilha, que é uma dança tradicional, mas que incorporou outros elementos à indumentária, à música e à coreografia. São transformações que também garantem uma permanência.

São João Infonet - Com relação às permanências, quais seriam elas no atual contexto cultural?

Amâncio - Esse reforço de algumas bandas universitárias adotarem o forró pé de serra é uma permanência. Outro exemplo é a comida típica, que tem presença obrigatória nas mesas nordestinas durante os festejos juninos. Percebemos também um saudosismo de um tempo não vivido. Jovens que querem resgatar aquele São João do passado, caseiro, de vizinhança. É um gosto atual ser retrô.

São João Infonet - O cantor e compositor Rogério imortalizou que “Sergipe é o país do forró”. Até que ponto essa máxima é verdadeira?

Amâncio - Sergipe está inserido na cultura junina há muito tempo, desde o período imperial. O forró nasceu no Nordeste, possivelmente no Sertão paraibano e pernambucano, e se espalhou por todo o território. Sergipe cultiva e sempre cultivou essa tradição. Rogério se utiliza do exagero poético com objetivo de chamar a atenção, porém, em muitos aspectos, essa frase não é uma realidade. A gente não pode carregar essa bandeira de que “Sergipe é o país do forró” sem uma identidade cultural forte. Isso é obrigação do poder público, que tem deixado muito a desejar. Os gestores de turismo são políticos, não turismólogos. Não dá para fortalecer o turismo no Estado sem um símbolo. Na Bahia, tem a baiana do acarajé. Em Pernambuco, tem o frevo. São símbolos que sintetizam uma identidade. Aqui, esse símbolo poderia ser um tocador de forró, por exemplo, mas os sanfoneiros sequer têm o devido reconhecimento. Há grupos que existem há mais de 30 anos e ninguém conhece a história. Se a política partidária deixar parar de se intrometer na gestão pública do turismo, talvez isso melhore.

Por Michel Oliveira

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